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Gunter Hufnagel

Chefe de relações industriais aposentado, filho de alemães. Pai e tios foram presidentes do Clube Kolping de São Paulo, cresceu dentro do clube, viveu muitas mudanças. Trabalhou na indústria automobilística e sempre participou dos quadros diretivos do Clube Kolping. Também participou das atividades e da diretoria do Lyra.

Imagem do Depoente
Nome:Gunter Hufnagel
Gênero:Masculino
Profissão:Relações Industriais
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:São Paulo

Transcrição do depoimento de Gunter Hufnagel

USCS – Universidade Municipal de São Caetano do Sul

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa



Memórias do ABC



Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)

Núcleo de Pesquisa Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias

Depoimento de Gunter Hufnagel, 77 anos

São Paulo, 08 de agosto de 2013

Local: Associação Católica Kolping

Pesquisador: Alberto Iszlaji Junior e Mariana Lins Prado

Equipe técnica: Kleber Parra


Transcitores: Paulo Nunes e Izomar Lemos


Pergunta:

Boa Tarde!

Resposta

Boa Tarde!

Pergunta:

A gente tá {está}, vai fazer a entrevista com o senhor. Essa entrevista faz parte do, do trabalho de Associações Alemãs em São Paulo, meios e mediações da comunicação da cultura de comunidade ale, germânica. A pesquisa é feita por mim, Alberto, que também estou fazendo a entrevista hoje, com a ajuda da Mariana, e com operação da câmera do Cleber. Eu queria que o senhor, antes de começar, me dissesse o seu nome, o lugar onde o senhor nasceu e começasse a falar um pouquinho de sua história, de como foi a sua infância.

Resposta:

Meu nome é Gunter Hujnagel, eu nasci em 11/09/35. Nasci em São Paulo, meu pai foi presidente da Associação, meu tio foi também, então a família está engajada na Associação Católica Kolping, e eu cresci aqui dentro. Então eu vi isso aqui brotá {brotar}. No começo nós tínhamos só o nosso restaurante, aquela casinha na frente, e não tinha mais nada. E ai nós fomos ampliando, ampliando, eu fui entrando na diretoria, fazendo o papel, atualmente, de conselho fiscal, mas já fui também, da parte social então praticamente eu nasci aqui dentro. E, cresci, me desenvolvi, nós jogávamos muito handball, naquele tempo que era handball mesmo, agora tem poucos que tão fazendo o jogo de handball, mas na época nós tínhamos , praticamente oito associações, nós disputávamos muito campeonato. Então isso aqui era um campo, o campo era ai fora, não tínhamos esse salão, e fomos desenvolvendo e crescendo até hoje estarmos com os pés no chão aqui dentro.

Pergunta:

O senhor pode me falar um pouquinho do seu pai? Ele veio da Alemanha?

Resposta:

Meu pai veio da Alemanha, veio ele e meus três tios. Foi um dos fundadores da Associação Católica Kolping, quando eles vieram prá (para) cá eles já se engajaram logo num clube, e nós não tínhamos nada, e eles foram desenvolvendo, desenvolvendo, ai construímos a piscina com a ajuda dos meus, meu tio, que ele financiou muita coisa, então a família praticamente esta engajada no projeto aqui. E tamos {estamos} até hoje ai, enquanto Deus quiser to {estou} ai. [risos]

Pergunta:

E, me conta como é que eles vieram pra cá, porque que eles saíram, como é que foi assim?

Resposta:

Foi 1939, foi antes da guerra, eles vieram pra {para} lá praticamente vieram embora para o Brasil porque não queriam a guerra nada na Europa. Então eles vieram em 39, é, 39 eles vieram. Veio papai, titio minha tia também veio o outro tio e se engajaram logo no clube Kolping e também no Pinheiros, que era o antigo Germânia, antigamente se chamava Germânia, depois passou a ser Pinheiros e logo se entrosaram e ficaram por aqui. Depois tiveram os filhos e eu sou um deles [risos].

Pergunta:

O senhor tem irmãos?

Resposta:

Tenho irmão, um irmão! Mora no Rio de Janeiro.

Pergunta:

Como é que era a infância de vocês aqui dentro?

Resposta:

Graças a Deus foi tudo bem. Nós crescemos praticamente aqui dentro. Então, nós tínhamos, onde é o salão grande, o nobre, nós tínhamos um cantinho lá que a entrada era bem na esquina lá, e nós tínhamos um espaço pequeno onde a gente brincava de areia, fazia brincadeiras de areia e assim foi iiinndo, (5’) evoluindo o clube até termos hoje o que nós temos atualmente.

Pergunta:

A sua mãe, ela também veio da Alemanha?

Resposta:

Também veio da Alemanha.

Pergunta:

De que região eles vieram?

Resposta:

Ah!!! Você ta {está} me perguntando muita coisa, viu? Mamãe veio de (Carri), (Carri) é a capital, ela veio de lá.

Pergunta:

E como seus pais se conheceram aqui no Brasil?

Resposta:

Ahh, O papai e a mamãe, eles se conheceram na Alemanha. Aí, o papai veio e depois ele trouxe a mamãe, veio pra {para} cá em 34, a mamãe também veio, ela veio depois dele. Ele veio antes em 33 parece, 34 eles vieram pra cá depois casaram em 35.

Pergunta:

Aí que o senhor nasceu?

Resposta:

Eu nasci em 35.

Pergunta:

Achei que o senhor tinha dito que seu pai veio em 39?

Resposta:

Não, foi antes, papai veio em 34. 34 porque eu nasci em 35.

Pergunta:

E aí desembarcaram no porto de Santos passaram pela hospedaria dos imigrantes...

Resposta:

Isso mesmo, passaram por tudo isso aí!! [risos]

Pergunta:

E na infância de vocês, além dessa brincadeira com a caixa de areia, vocês brincavam de mais o que, quais eram _______?

Resposta:

Nós tínhamos muito, nós jogávamos muito o handball Foi o esporte predileto que nós jogávamos aí, e antigamente, jogávamos também o (falcebol), era com (pluibol), então punha, não rede, um cordão amarrava aqui, amarrava lá e o cordão e (pluibol), só com o punho jogava para o outro lado ficava brincando aí. Isso aí eu me lembro que eles jogavam sempre. Jogavam muito. Depois nós jogamos handebol e ai nós entramos na federação também paulista e nós disputamos muitos campeonatos eu também participei de muito handball. Handball hoje em dia tá {está} declinando, mas foi uma época boa, viu, deu para aproveitar bastante.

Pergunta:

Vocês chegaram a viajar?

Resposta:

Chegamos! Nós chegamos a viajar bastante. Nós temos também o grupo de dança folclórica alemã aqui. Nós temos atualmente dois grupos adultos e um infantil e esses grupos se apresentam muito fora de São Paulo. Nós fazemos apresentações mais ou menos umas dez por ano, durante o decorrer do ano. Então, as vezes faz duas, três no mês no outro mês faz uma só, e assim vai. Tanto é que nós vamos viajar agora, no dia 18... é o fim de semana não esse o outro, nós vamos pra Atibaia fazer apresentação lá e... sempre nós já tivemos mais de 40 integrantes no grupo, atualmente tamo {estamos} numa base de 20 e... se apresentou fora graças a Deus sempre com sucesso e sempre nos chamam nós já tamo {estamos} em Atibaia, acho, há 7 ou 8 anos já seguidos todo ano eles chamam a gente para ir dançar lá, e Atibaia vai muita gente. Eles fazem, tem até propaganda aí na frente. Eles fazem, acho, que o mês inteiro todo fim de semana e vai muita gente lá é onibuzão atrás do outro e nós vamos encarar indo pra lá já somos em 30, vamos em 30 prá lá e voltamos, tudo pago.

Pergunta:

Mais é um tipo de festival?

Resposta:

É, é, é, os japoneses que se apresentam, o iuguslavo, é o alemão, é todo esses grupos se apresentam, e geralmente, acho, que são 8 ou 9 grupos que se apresentam por dia lá, então nos sábados e domingos e durante a semana também, mas nós só vamos no fim de semana.

Pergunta:

E é só com danças essa, esse festival?

Resposta:

É tudo dança! Os japoneses se apresentam muito com aqueles tambores. É lindo! Se vocês tiverem oportunidade de ir prá lá, vão prá ver!(10’01”)

Pergunta:

E como é que foi sua entrada no grupo de dança?

Resposta:

Grupo de dança?

Pergunta:

Como o senhor começou a dançar?

Resposta:

Olha, eu comecei a dançar, acho, que tinha 18 ou 19 anos, por intermédio de colegas, vem, vamo {vamos}, vamo {vamos} ensaiar, e eu fui coordenador já de grupo de danças da Lyra, depois eu me afastei da Lyra, mas continuo a amizade toda. Canto ainda lá no coral da Lyra. Faço participações lá, ontem mesmo foi dia de ensaio e a gente vai tocando, tocando a vida! Se divertindo! Isso que é o principal. Nós vamos para Atibaia todo ano, todo ano, acho, que já são 7 ou 8 anos já seguidos. A turma já conhece a gente. Participamos também do (Broklin fast). (Broklin fast) aqui nós também todo ano tamos {estamos} presente.

Pergunta:

E essa relação com a Lyra, por que o senhor foi pra lá? Como é que é essa relação?

Resposta:

Não, os meus pais, eles quando vieram prá cá, eles vieram para a associação católica Kolping e automaticamente só tínhamos praticamente esses dois clubes alemães, eles iam tanto num como no outro, então são sócio dos dois, e eu também fiquei sócio canto na Lyra até hoje e, ainda ontem tivemos ensaio. Eu canto lá como se fosse um sócio normal, como sou daqui também. Aqui faço parte da diretoria, lá eu fiz parte da diretoria, mas não faço mais. Mas eu vou participar sim, nós participamos muito, festivais de corais e tudo a gente vai se apresentar.

Pergunta:

Então o senhor freqüenta normalmente os dois lugares?

Resposta:

Frequento os dois lugares.

Pergunta:

Onde que o senhor estudou? Como foi a sua vida na escola?

Resposta:

Ah! Minha vida escolar! Eu estudei, o primeiro colégio que eu estudei quando era criança foi o Santo Adalberto,era na Conselheiro Crispiniano onde é hoje, o,o,(...) como é que vou falar a polícia lá, o quartel,era um colégio, colégio de freiras. Então eu estudei lá, e depois de lá eu fui pro {para o} o colégio(...), eu fui pro (...) {para o} Porto Seguro e depois eu fui pro (...) {para o} Piratininga onde eu me formei contador. E só!

Pergunta:

O senhor aprendeu a falar o alemão?

Resposta?

Sim!

Pergunta:

Em casa?

Resposta:

Em casa, com meus pais. Não sei escrever e ler corretamente, mas eu entendo tudo e falo também normalmente. Para escrever que é duro, né! Mas a gente vai quebrando o galho, o que eu preciso falar em 10 palavras eu falo em 20 porque eu dou a volta [risos].

Pergunta:

No colégio Porto Seguro o senhor chegou a ter aula de.... alemão?

Resposta:

Já, já tinha aula com doutor (Arkerman) professor espetacular muito bonzinho doutor (Pitche) bons tempos.

Pergunta:

Como eles eram? Muito rígidos?

Resposta:

Eles eram muito bonzinhos. É, sistema Alemão, Porto Seguro, você faz uma idéia de como é que é ou você faz direito ou não faz. Então nós temos que obedecer, e a gente obedecia. Tínhamos uma professora, a Leila, ela gostava muito de... antigamente podia dar tapa né, não obedecia PÁ! e nós sempre brincávamos, ela punha cinco ou seis, do número um ao cinco e todo mundo ficava assim: responda, não sei, responda, respondeu, (15’) aquele que não sabia levava reguada. Rapaz!! O fulano estudava porque senão, era reguada na mão e eles desciam a régua memo {mesmo} viu, mas foi tudo bem graças a Deus, educação correta nós tivemos.

Pergunta

E como que era a escola, tinha aula de Educação física?

Resposta:

Tinha.

Grupo de escoteiro?

Resposta:

Não, grupo de escoteiro nós não tínhamos. Nós tínhamos aula de alemão em geral todos os cursos. Mas, foi bom. Eu aprendi bastante!

Pergunta:

O senhor fazia, jogava handball na escola?

Resposta:

Sim, sim, na escola e depois nós tivemos aqui na associação time de handball. Nós tínhamos handball de campo e handball de salão. Nós tínhamos os dois grupos, e era uma turminha boa, viu? Turminha tava {estava} sempre ali, na ponta!

Pergunta:

O senhor tinha amigos da escola que freqüentavam o clube?

Resposta:

Sim, sempre. Sempre muitos colegas do colégio. Até hoje ainda tem.

Pergunta:

Da época?

Resposta:

Da época.

Pergunta:

O senhor morava aqui e estudava lá no Morumbi? Que bairro o senhor morava?

Pergunta:

Não, eu morei em Pinheiros, depois de Pinheiros eu fui pra Santo Amaro, em Veleiros. Depois de Veleiros, não, não peraí {espera aí}, eu fui pra {para} a Vila Pompéia, quando eu casei, 59, e depois eu fui pra {para} Veleiros, e ali eu tô {estou} até hoje.

Pergunta:

Como era a cidade naquela época? Como o senhor se deslocava de um lugar pro {para o} outro?

Resposta:

De bonde! De Bonde! Nós, aqui na Vereador Diniz era bonde, onde passa o ônibus hoje, era bonde.Eu gostava porque o bonde ia que nem trem. Tinha os dois lados, é separados ne? Pra {para} ninguém atravessar o trilho e o bonde vinha que vinha lascado! Vinha até Santo Amaro. Pegava na Praça João Mendes, e ia pra {para} Santo Amaro. Passava pelo Biológico, Vila Mariana, Biológico, pegava aqui a vereador. Daqui ia atééééé, até Veleiros

Pergunta:

E precisava de salvo conduto? Podia falar alemão?

Resposta:

No tempo da guerra, houve uma época, que a gente não podia falar alemão, então eu nunca me esqueço os meus pais uma vez, foram pro {para o} Horto florestal. E nós tavamos {estávamos} caminhando, passeando lá, brincando, nós era {éramos} tudo garotinhos e apareceu um cara falou assim, “Vocês tão falando alemão, tão {estão} presos!” Isso aconteceu! Meu pai foi, acho, que duas vezes preso. Porque falou alemão. Ele não sabia falar direito o português. Falava alemão já prendiam. Só que nós tinha {tínhamos} uma conhecida, da policia, então quando telefonavam já saia logo, não ficava preso. Mas nós passamos uns apertos sim.

Pergunta:

E essa vez só foi o seu pai preso?

Resposta:

Dessa vez foi só o papai. Mas no dia seguinte ele já tava em casa. É, foi uma época dura.

Pergunta:

O seu pai trabalhava de que?

Resposta:

Cabelereiro. Todos eles. São quatro irmão. Os quatro cabelereiros.{cabeleireiros} [risos] Cê {você} vê?

Pergunta:

E a sua mãe?

Resposta:

A minha mãe também era cabelereira.{cabeleireira} [risos] . Eles se conheceram lá e depois vieram pra {para} cá.

Pergunta:

E trabalhavam, tinham salão próprio?

Resposta:

Sim, salão próprio.

Pergunta:

Em casa ou saia?

Resposta:

Não! O papai tinha o Star Cabelereiros,{cabeleireiros} era na cidade quando ele se separou dos irmãos então ele fundou na Avenida Ipiranga, 337. Ainda me lembro bem, ali em frente ao Edifício Itália. Ali o papai tinha o salão dele, e antes ele trabalhava com os irmãos na Casa Coloni, que era na Rua Consolação (20’), 820. É 820, até o número eu me lembro. E a casa Coloni, tinha mais ou menos quarenta, quarenta e cinco gabinetes. Gabinetes é lugar prá {para} atender. Eles, eles muitos conhecidos, eram muito conhecidos. Depois o papai mudou pra, ele se separou dos irmãos, o titio foi prá {para} Jardim Paulista, outro foi aqui pra Santo Amaro. Cada um fez o seu salão e o papai ficou na Avenida Ipiranga, 337. Lá nós tínhamos, quer ver? Cinco, dez, acho que uns quinze ou vinte no máximo, salão, gabinetes pra atender. Eu aprendi a profissão também, mas não segui não! [risos] Lavava cabeça de mulher. Já dei banho em muitas mulher, viu? Vai lavar o cabelo tal, vamo {vamos} lavar! Não tem problema. Mas

Pergunta:

O senhor ajudava?

Resposta:

Ajudava. Fazia peruca, meu pai também fazia muita peruca. Gente que não tem cabelo, coitados... Têm dó! É...

Pergunta:

Como eram feitas essas perucas? Com cabelo de verdade?

Resposta:

Cabelo de verdade. Você tá {está} com o cabelo comprido. Corta o cabelo, corta o cabelo e vai trançando ele. Depois tem que fazer primeiro um esqueleto. Quer dizer, depois é tudo amarrado, tudo direitinho, depois vai prendendo o cabelo. Dá trabalho viu? Dá trabalho! Mas eles faziam e eu tinha que aprender [risos]

Pergunta:

E como era a culinária? O que o senhor aprendeu a fazer de comida alemã? Quem que cozinha na sua casa?

Resposta:

Ah! A minha mulher sabe cozinhar bem. Sabe! Ela é filha de italiano. Então italiano já, gosta muito de massa, e aprendeu muita coisa alemã. Ela faz muita comida alemã. É batata e, alemão é batateiro!

Pergunta:

E qual é o prato que o senhor mais gosta? Típico alemão?

Resposta:

Típico Alemão? Eu gosto mais de massa viu? [risos] Eu como batata, um bife bem gostoso, mais é massa. Eu gosto mais de massa.

Pergunta:

E como o senhor conheceu sua mulher? Quando foi?

Resposta:

Isso foi gozado. Eu trabalhava com meu pai no Star Cabelereiro, na cidade, na Avenida Ipiranga. E, e a Terezinha veio trabalhar com ela. Terezinha era manicure, então, eles trabalhavam juntos no fim eu acabei saindo, na hora do almoço, eu dava fugidinha ia comer com ela no, como é que chamava lá? (...) Na Avenida Ipiranga, em frente ao Marabá, Cine Marabá. Em frente tinha um local onde tinha, você comia em pé! Mas tava (estava) cheio todo o dia! E a gente vira, vira e mexe ia comer lá. Era muito gostoso! Eu não me lembro o nome viu? Ah não! É, que, também faz tanto tempo! Mas...

Pergunta:

E, o senhor, vocês namoraram quanto tempo?

Resposta:

Namoramos cinco anos.

Pergunta:

Cinco anos. O senhor casou em que ano?

Resposta:

Eu casei em 59.

Pergunta:

Cinquenta e nove. Tem filhos?

Resposta:

Tenho três. Todos casados. [risos]

Pergunta:

Meninos, meninas, quantos?

Resposta:

Duas meninas e um menino. O mais novo é o moleque.

Pergunta:

E, conta como é que foi com as crianças?

Resposta:

Com as crianças? Ah! Sapeca como sempre! Mais foi tudo bem graças a Deus, sabe o alemão ele é um pouco rígido, então, eu adquiri a rigidez dos meus pais ou você faz direito ou não faz ou deixa de fazer ou não faz, esse negócio de fazer pela metade não é comigo. Então, toda vida foi assim, eu trabalhei na (Diedrich Deville) trabalhei na (Karmanguia), fiquei 11 anos na (Karmanguia) depois me aposentei. E aí, eu parei de trabalhar aí eu fiquei fazendo bazares essas coisas eu faço bazar aqui todo mês, então, me viro bem tranqüilo graças a Deus, os filhos já tão {estão} crescidos. [risos] Tá {está} tudo bem!

Pergunta:

Nessa (Karmanguia) que o senhor trabalhava, qual era a sua função?

Resposta:

Gerente de Relações Industriais.

Pergunta:

Como que era esse trabalho?

Resposta:

Como é que era? Era puxado, meu!!! [risos] Não era, foi uma época que eu tinha muito pique! Hoje a gente já diminuiu, mas era uma época boa! Eu comecei na (Karmanguia) quando nós começamos a fazer o (karmanguia), foi logo no começo, logo no começo eu entrei eu fui acho que o quinto ou sexto funcionário lá. E lá eu fiquei 8 anos, depois o diretor saiu e me levou para outra firma aí eu fui para (Efenhause),fiquei mais 8 anos e depois eu me aposentei. Fiz coisas que tinha que fazer sozinho não precisava mais ninguém e, e, a vida foi levando, foi levando hoje tô {estou} com 77 e ainda tô {estou} vivo! [risos]

Pergunta: O senhor depois que se formou na escola...o senhor fez...

Resposta:

Ah sim! Curso de aperfeiçoamento cê {você} sempre faz, sempre tem coisa pra fazer, não pode ficar parado.


Pergunta:

O senhor tá estudando o que?

Resposta:

Ah eu sempre tô!! {estou} Tudo referente a relações industrias, (...) departamento pessoal né? Então comecei lá do nada, e graças a Deus, fiquei muitos anos lá, chefiando quase 800 pessoas, era gente, era gente ....

Pergunta:

A sua esposa trabalhava também ou ela...

Resposta:

Trabalhava, ela sempre me ajudou. Trabalhava, trabalhou um tempo com meu pai, num salão Star Cabeleireiro chamava, era na Avenida Ipiranga 337, eu me lembro até o número, perto da Praça da República. Depois, nós casamos em 59, aí ela parou de trabalhar. Trabalhou mais um tempinho comigo parou depois e ficou dona de casa.

Pergunta:

Aliás como é que foi o namoro, como que era naquela época?

Resposta:

Graças a, graças a Deus, ah saímos bastante, era gostoso, era outra época, não é que nem hoje, hoje você não pode sair, cê {você} sai daqui é assaltado na esquina.

Pergunta:

Quais eram os passeios naquela época?

Os passeios? Eram vários, eram vários! Nós íamos muito no Ibirapuera! O Ibirapuera naquela época já era bonito, já era bonito. Ibirapuera nós saíamos muito!

Pergunta:

Cinema?

Resposta:

Cinema, cinema era todo domingo, é domingo, eu morava em Santo Amaro, ela morava na Casa Verde, então, a gente se encontrava na cidade [risos]. É, ponto de referência era centro da cidade lá na Santa Efigênia. Eu lembro! Tinha o cometa (empresa de ônibus) ali parado mas eu...o local que o cometa parava então sempre tinha movimento lá. Eu marcava o cometa e sentava lá e ficava olhando os passageiros chegar, embarcar e chegava no horário íamos para o cinema, dali assistíamos o filme e depois íamos para casa. Dali eu levava ela até a Casa Verde, ficava na casa dela com a mãe dela, tal..; Lá pelas nove e meia, nove e meia (30’) já era o horário, aí tinha que voltar. Eu descia na Santa Efigênia, descia correndo o Anhangabaú para pegar o ônibus, para pegar o ônibus para vir pra Santo Amaro, era uma viagem! Mas antigamente você, era mais rápido não é que nem hoje, hoje é tudo demorado, hoje não anda, o trânsito é parado. Era puxado, mais deu prá passar!

Pergunta:

Como foi o pedido de casamento?

Resposta:

O pedido de casamento? Iche!!! Agora você também me pegou! Ih, normal. Normal não posso dizer nada de anormal. Nós resolvemos casar, casamos em 11 de setembro.

Pergunta:

Seu aniversário?

Resposta

Em setembro... 35 que eu nasci, nós casamos em 59... então...

Pergunta:

Teve que pedir para os pais dela?

Resposta:

Ah! Sim! Esse, esse é que é o pior de tudo! Eu, prá falar com os pais dela eu levei acho que um mês prá falar. É, porque hoje em dia não, hoje em dia, já vão em casa direto não sei, é diferente.. Antigamente não, era mais respeitoso não sei, era diferente. Mas deu tudo certo, ainda bem que me acolheram bem, né? [risos]

Pergunta:

E o senhor fez festa? Como é que foi o casamento?

Resposta

Casamento foi ... foi, fiz, fiz festa...

Pergunta:

Aqui no Kolping?

Resposta:

É, aqui.

Pergunta:

________________(Não entendi)

Resposta:

Não tinha capela ainda, tinha só o salão, o salão grande.

Pergunta:

Queria que o senhor me falasse um pouquinho, já que a sua família participou tanto da história do Kolping, contar um pouquinho da história do próprio clube, como ele surgiu, como ele vem, como ele sobreviveu até hoje?

Resposta:

Bom,(...) o Kolping foi fundado pelos meus pais e meus tios,faz, se não me engano eles vieram em 34, 35 prá cá em 1934, 35 e de lá pra cá a família foi crescendo, os filhos foram ficando na diretoria e até hoje eu ainda estou, minha tia também está ainda, e praticamente a família (Eufraga) toda fez parte da associação. Nós conseguimos em primeiro lugar adquirir um terreno que era perto da marginal, depois onde, é o Carrefour ali, mais aquelas redondezas, depois de lá antigamente tinha o rio Pinheiros. O rio Pinheiros era muito usado pelo clube Pinheiros também, antigo Germanio, onde eles faziam aquelas corrida de barco essas brincadeiras. Aí depois fizeram as marginais, canalizaram o rio então nós adquirimos esse terreno aqui, em piraquara. Esse terreno não tinha nada, só tinha um restaurante. Essa parte antiga aqui, e quando papai, titio vieram pra {para} cá, depois eles foram ampliando, ampliando, ampliando ai construíram a piscina, ai construíram o vestiário e ai foi indo, foi indo. E hoje nós temos esse patrimônio. Esse patrimônio, graças a Deus, pertence á associação, tá {está} tudo pago, tudo direitinho, tudo legalizado, não tem problema nenhum. E tamos {estamos} vivendo dos alugueis que nós usamos aqui prá {para}..., tem muitas escolas que vem agora fim de ano, é que vem mais [tosse] é escola que usa os salões. É, bazares que a gente faz. Nós fazemos bazar todo o mês. Todo o mês eu faço um bazar. Próximo vai ser agora dia 25. Então eu uso aquele salão grande pra fazer o bazar e uso também esses pequenos, este e o restaurante para o almoço. E graças a Deus, nós tamos {estamos} (35’) sobrevivendo graças.

Pergunta:

Então o restaurante ele é, faz parte do Kolping ou ele é terceirizado?

Resposta:

Ele é terceirizado, mas ele faz parte do Kolping . Tá?

Pergunta:

E tem comidas típicas alemãs?

Resposta:

Sim, claro. Lógico. Não pode faltar. Clube alemão, com faltando comida alemã, não é possível. Então...

Pergunta:

E esses bazares, o que é vendido?

Resposta:

Tudo! É sapato, é roupa, é eu faço bolo também, porque minha senhora faz os bolos e minha filha, então nós vendemos bolos, café de tarde, às duas horas, duas e meia, mais ou menos, nós começamos a vender os bolos, então é o dia inteiro tem gente. A missa começa ás dez horas da manhã, termina as onze. Automaticamente o pessoal sai da missa já vai pro {para o} bazar, que é em frente, no salão grande, no nobre. E lá ficam vendo tudo, olhando, comprando já ficam pro {para o} almoço ou, e assim vai o dia inteiro, graças a Deus tem funcionado.

Pergunta:

E essa missa ela é, quem que freqüenta a missa?

Resposta:

Os católicos.

Pergunta:

Mas é, são sócios?

Resposta:

Sócios e não sócios. O pessoal da redondeza, também vem na missa.

Pergunta:

Ela é ministrada em alemão ou em português?

Resposta:

Em português. Mas tem missas também em alemão. Nós fazemos também tudo o ano, muitas, como é que se fala? Comemorações, nós temos aqui, temos também, agora vamos fazer noventa anos, aqui então vai ter uma festona!

Pergunta:

E, o clube, hoje em dia, qual o perfil dos sócios aqui do clube? Eles são, sempre foram alemães ou eles sempre admitiu não alemães?

Resposta:

Não. Nós admitimos também não alemães. Mas tem muito alemão aqui. Tem alemão e tem, tem meio a meio vai.

Pergunta:

Mas antigamente...

Resposta:

Antigamente era só, era só alemão, praticamente eram só alemão. Porque o nome já diz Kolping! Que é o nome do Padre. Já foi canonizado. Então o nome Kolping vem do nome, sobrenome do padre.

Pergunta:

Me fala um pouquinho desse padre.

Resposta:

Que (o que) que eu vou falar do padre? (longa pausa). Não sei.

Pergunta:

O que o senhor quiser.

Resposta:

Bom, eu cresci aqui dentro. Conheci o Kolping. Nós temos também a Igreja São Bonifácio, que é uma igreja na Rua Humberto Primo, e lá também é tudo alemão. Então nós trabalhamos muito em conjunto com eles. A igreja e o nosso. Nós temos praticamente gente da diretoria aqui, gente da diretoria lá. Então, praticamente é uma família. Graças a Deus temos tido sucesso até hoje e vamos continuar tendo.

Pergunta:

Vocês fazem eventos, por exemplo, a Lyra junto com o Kolping existe algum...


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul